“Um povo que não conhece sua história está fadado a repeti-la”. Edmund Burke, célebre político e escritor irlandês, autor da famosa frase citada, deu contornos muito negativos ao desconhecimento da história. Deveras, Burke critica o desprezo ao estudo e à análise dos acontecimentos pretéritos e assevera que desdenhar do passado e de tudo que ele pode nos ensinar implica reviver experiências ruins. Para o estadista, portanto, cabe ao homem diligenciar no sentido de fazer diagnósticos de atos e fatos que já se passaram e, com isso, melhorar suas chances de direcionar as ocorrências futuras no rumo desejado.
O apóstolo João, por sua vez, inspirado pelo Espírito Santo, registra, no capítulo 5 de Apocalipse, que a história é regida por Jesus Cristo. Ele é o Leão da Tribo de Judá, a Raiz de Davi, o único achado digno de abrir o livro e os sete selos (e o ato de abertura do livro e dos sete selos simboliza exatamente o senhorio de Cristo sobre o desenrolar dos fatos). A mensagem do Apocalipse deixa claro, portanto, que a história não é cíclica, como se sustentava na Grécia antiga, mas teve um início e se encaminha para um fim, e que, acima de tudo, o nosso Salvador e Senhor possui em sua mão o controle sobre a rota que liga o início ao fim dos acontecimentos.
Do acima exposto, surge complexa discussão a respeito do quanto nós, seres criados, temos a possibilidade de ditar o futuro. Com efeito, se Jesus tem em Suas mãos a direção da história, será que tudo já se encontra predeterminado? Se assim é, será que o que eu decido fazer, decido-o porque Aquele que tudo dirige fez com que assim eu decidisse? Para alguns, especialmente de raiz calvinista, a resposta a essas duas perguntas é sim. Para outros, seguir esse entendimento implicaria, em última instância, o perigo de se excluir a responsabilidade do homem por seus atos.
Por óbvio, a controvérsia é muito mais intrincada e nem se tem a pretensão de discuti-la nestas poucas e discretas linhas de texto. O que proponho ao leitor é uma rápida reflexão a respeito da participação que temos na construção da história. Com a devida vênia aos irmãos que defendem o determinismo (ainda que divino), gosto de pensar que o nosso Salvador e Senhor dirige os acontecimentos através de nós e, portanto, dá-nos o privilégio e a responsabilidade de, com Ele, participar da construção da história.
Nesse contexto, a afirmação de Edmund Burke traz contribuições muito úteis para nós. Cabe apenas estender um pouco o seu raciocínio: urge, sim, conhecer a nossa história, com o intuito de evitar reiterar eventuais erros já cometidos, mas também com o intuito de repetir os acertos! É dizer: repetir a história não é o problema; o problema é não aprender com erros passados e reiterá-los. Dura coisa é reprisar o passado quando este é recheado de desacertos; bênção, porém, é reproduzi-lo quando o construímos sobre o que é idôneo. Às portas de Canaã, conforme registra o livro de Deuteronômio, Moisés traz à lembrança do povo escolhido os tristes episódios de desobediência, a fim de admoestá-lo a não mais a cometer, mas também rememora as bênçãos recebidas quando a Lei foi observada, no intuito de incentivar aquele mesmo povo a assim proceder quando da posse da terra prometida.
Nossa igreja acaba de completar 111 anos. Agradeçamos ao nosso Salvador e Senhor o que Ele tem feito através de nós e de todos os irmãos e irmãs que já estiveram em nosso meio. Como usualmente se diz, temos muita história para contar! Incumbe a nós refletir no que acertamos (e, assim, tentar repetir, na medida do possível) e no que erramos (para nisso não mais incorrermos). Tal reflexão, a propósito, é de ser feita continuamente (ou seja, não precisamos esperar outros 111 anos), pois a história é escrita a cada dia, a cada hora, a cada momento, enfim. Quanto antes reconhecermos nossos erros e os corrigirmos, maiores serão as chances de aumentarmos os nossos acertos, para a glória do Senhor.
Texto do professor Márcio Samezima no informativo da PIB do Brás datado de 10/07/2022.
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